Foi grande a felicidade
Que até sorri e chorei
Quando na maternidade
Primeira filha ganhei.
E lá se vão dezoito anos
Minha semente floriu
Filha do amor que geramos
Quando os gens a gente uniu
Minha filha é uma bênção
Presente de Deus Criador
Desde sempre é emoção
Que supera qualquer dor
Lembro seu aleitamento
Foi materno e exclusivo
Ante o sexto mês de tempo
Mais dois anos decorridos
Lembro seus laços de fita
Das historias que contei
Das cantigas tão bonitas
Quando em meu braço embalei
Estava no ventre ainda
Recitava-lhe Camões;
E ais poesias mais lindas
De Bernardo Guimarães*.
"Se eu de ti me esquecer"
Abandone-me a esperança
Posto que és o meu viver
Minha adorada criança.
Madalena de Jesus
Se eu de ti me esquecer
Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso
Possam meus tristes lábios desprender;
Para sempre abandone-me a esperança,
Se eu de ti me esquecer.
Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques
Sombra amiga, em que possa adormecer,
Não tenham para mim murmúrio as águas,
Se eu de ti me esquecer.
Em minhas mãos em áspide se mude
No mesmo instante a flor, que eu for colher;
Em fel a fonte, a que chegar meus lábios,
Se eu de ti me esquecer.
Em meu peregrinar jamais encontre
Pobre albergue, onde possa me acolher;
De plaga em plaga, foragido vague,
Se eu de ti me esquecer.
Qual sombra de precito entre os viventes
Passe os míseros dias a gemer,
E em meus martírios me escarneça o mundo,
Se eu de ti me esquecer.
Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima
Caia sobre o sepulcro, em que eu jazer;
Por todos esquecido viva e morra,
Se eu de ti me esquecer. Bernardo Guimarães
